O que podemos aprender com alguns casos recentes de atos e declarações que prejudicaram grandes negócios?
De forma reduzida, podemos afirmar que o compliance empresarial busca cumprir e observar rigorosamente a legislação à qual se submete a empresa, além de aplicar princípios éticos nas suas tomadas de decisões, preservando ilesa sua integridade e resiliência, assim como de seus colaboradores e da Alta Administração.
Por sua vez, ao estarmos inseridos em uma sociedade cada vez mais digital (em que as informações, boas ou ruins, você queira ou não, são transmitidas em tempo recorde), antenada e engajada em assuntos sociais, uma política de compliance empresarial tem se mostrado de extrema importância para a manutenção da imagem e idoneidade de grandes empresas e negócios.
1 – CASO MONARK
Monark, ex-apresentador do Flow Podcast, já era há tempos conhecido por suas declarações polêmicas. Mas em episódio veiculado no dia 07/02, em debate com os deputados Kim Kataguiri e Tabata Amaral, declarações do apresentador defendendo o reconhecimento, por lei, de partidos nazistas no Brasil, trouxe fortes consequências não só para ele, mas também para o Flow Podcast.
Após a declaração, o Flow Podcast perdeu o patrocínio de, pelo menos, 17 empresas, dentre elas: Mondelez, Flash Benefícios e Wise Up.
Além disso, Monark foi desligado do canal de podcast e diversos famosos solicitaram que seus episódios fossem tirados do ar e excluídos do canal no Youtube – dentre eles: MV Bill, Gabriela Prioli, Benjamin Back e Marcos Castro -; outros, como Zico, cancelaram suas idas ao programa.
Tudo isso, abre espaço para a concorrência. Apenas um dia após o ocorrido, o Flow já perdia 600 mil inscritos em seu canal no Youtube, enquanto o PodPah (outro canal de podcast, concorrente direto do Flow) ganhava 12 mil.
2 – CASO SILVIO SANTOS
Silvio Santos, dono do canal SBT, também é conhecido por suas declarações polêmicas. Em 2017, Silvio Santos proferiu, em rede nacional, comentários afirmando que a jornalista Rachel Sheherazade “foi contratada para ler notícias e não foi contratada para dar a sua opinião” e de que a teria chamado apenas para “continuar com a sua beleza, com a sua voz, foi para ler as notícias no teleprompter e não foi para você dar a sua opinião”.
A jornalista, por sua vez, entrou com um processo trabalhista contra a empresa e, em recente decisão, proferida pelo juiz da 3a Vara do Trabalho de Osasco/SP, a atitude de Silvio Santos, além de ter sido fundamental para a configuração do vínculo empregatício – uma vez que a jornalista deveria apenas “ler as notícias no teleprompter”, não tendo qualquer autonomia -, também foi considerada “muito deselegante e abusiva, em comportamento claramente misógino”, rendendo uma condenação de R$ 500.000,00 a títulos de danos morais.
O valor total da condenação (verbas trabalhistas + indenização por danos morais) foi de R$ 4 milhões.
3 – CASO KURT ZOUMA
Por fim, trago um caso que aconteceu recentemente na Inglaterra. O jogador Kurt Zouma, zagueiro do time londrino de futebol West Ham, foi filmado batendo e chutando seu gato. As imagens viralizaram nas redes sociais na última semana, causando forte comoção.
No entanto, poucos dias após a viralização dos vídeos, o técnico do time inglês, David Moyes, decidiu por manter o jogador no time titular do West Ham para enfrentar o Watford, em jogo da Liga Inglesa.
A atitude (ou falta de) foi muito malvista pela empresa Vitality (então patrocinadora do time de Londres), que, em nota, se disse “muito decepcionados com a posição tomada pelo clube em resposta ao incidente”, razão pela qual decidiu suspender seu contrato de patrocínio com o West Ham.
Além disso, o West Ham multou o jogador em 2 contraprestações semanais, ou £250,000. No entanto, a forma com que a punição foi anunciada, acabou por tornar público o valor do salário do jogador, o que, segundo a mídia inglesa, “enfureceu” seus companheiros de time, uma vez que Zouma, apesar de ser um dos jogadores com menos tempo de clube, é o mais bem pago.
Todos esses casos mostram, de forma bastante clara, como “simples” atos ou declarações podem prejudicar grandes negócios e empresas.
Grandes empresas, cada vez mais, precisam ter mais cuidado e responsabilidade social, afinal, seu negócio depende de sua audiência e de seus clientes.
Por isso, é importante manter estratégia e discurso alinhados internamente (com colaboradores, sócios e alta gestão) e externamente (com seus patrocinadores e parceiros comerciais).
Neste sentido, políticas de compliance, programas de conduta, adoção de respostas rápidas e adequadas e diversas outras ferramentas devem ser utilizadas com atenção e sabedoria.